Por Ricardo Syozi.
É inegável que as séries de animação vêm crescendo em popularidade e qualidade. Desenhos já não são apenas para crianças, eles podem trazer temáticas importantes, oferecer conteúdo único, e ainda entreter de tantas formas diferentes. E o melhor: para todas as idades.
Kipo e os Animonstros faz parte dessa leva que consegue ser inocente ao mesmo tempo que relevante e sem medo de tocar em assuntos mais sérios. A animação foi criada por Radford Sechrist baseada em sua webcomic de 2015. O estúdio que a desenvolveu é a Dreamworks Animated Television, e a série está disponível no Brasil pela Netflix.
A premissa coloca Kipo, a protagonista humana, que se perde de seus vizinhos e de seu pai após a sua toca ser atacada por uma criatura. Sim, aqui os humanos vivem em tocas, pois o mundo foi dominado por animais mutantes que falam e agem como nós agíamos séculos atrás (na linha temporal do desenho, claro). Imagine beija-flores como aviadores, cobras que gostam de rock n’ roll, sapos mafiosos. É com essa pegada maluca e variada que Kipo e os Animonstros dá o tom para algo já presente hoje em dia em nossa sociedade: as tribos urbanas.
Essa brincadeira com algo forte da individualidade humana traz altos e baixos nos relacionamentos dos personagens, fazendo com que seja mais complicado “se encaixar”. Por outro lado, quando alguém o faz, a animação mostra que o esforço perante a amizade é recompensado, distanciando-se da segregação que essas tribos urbanas podem trazer em suas entranhas de vez em quando. Além disso, há outros temas como confiança, tolerância, expectativa etc.
A primeira temporada traz dez episódios de cerca de 20 minutos. Kipo e os Animonstros é gostoso de assistir, não é uma série que daremos gargalhadas constantes, mas sempre temos a sensação de que o tempo passou rápido, algo importante em tempos de frequentes lançamentos e oportunidades escassas para conhecer tudo. A protagonista é adorável, seus amigos Loba, Benson, Dave e Mandu possuem individualidades e vários momentos de brilho durante a temporada. Os vilões mostram-se mais antagonistas do que seres malvados apenas por serem do mal. Algo raro em séries de décadas atrás.
Algo a pontuar: é claro que o autor do desenho é um cinéfilo de plantão. Há vários momentos que fazem referências a filmes importantes e diretores sensacionais como David Lynch. Se curte esse tipo de coisa, vale aquela atenção maior para encontrar e se sentir inteligente. Após dez episódios, Kipo e os Animonstros mostra que há muita criatividade e bons textos por aí. Mal posso esperar para uma segunda temporada.
Ricardo Syozi é diretor de jornalismo do VGDB (Video Game Data Base), escreve para publicações da WarpZone, NVerse e é editor chefe do Indie On Brasil.